27 de julho de 2007

Paranóia

Era quase meia-noite e o domingo ia se acabando.
Certamente uma das noites mais frias do inverno daquele ano. Tão fria que a respiração ofegante daquele homem descendo a João Teles em direção a Osvaldo Aranha, em pleno Bom Fim, podia ser vista de longe. Uma imensa coluna de fumaça saia de sua boca a cada baforada acelerada.
Tinha tomado muito vinho na casa de uns amigos, e agora ia a passos largos na direção da parada de ônibus. Pensou muito em pegar um táxi na esquina da Santo Antônio com a Vasco, mas concluiu que ainda dava tempo para pegar um ônibus e subir a Protásio apesar do adiantado da hora.
Antes mesmo de chegar na Osvaldo, avistou dois homens que saíram de um portão escuro do outro lado da rua, que olhavam diretamente para ele e foram acompanhando seus passos a distância pelo outro lado da rua.
Sentiu um frio na espinha, um pressentimento talvez. Lembrou do táxi e pensou que realmente deveria ter pego.
Talvez ainda desse tempo de voltar correndo, desviar...
Hesitou por alguns segundos sem parar de caminhar, quando de repente foi surpreendido por uma voz grossa ao seu lado.
- Aê meu!!!...
Seu coração praticamente parou naquele momento.
Os dois ainda estavam do outro lado da rua, de onde teria surgido este? O que queria? O que ele faria?
Rapidamente olhou para a direção de onde vinha a voz e viu um rapaz, de roupas rasgadas, todo sujo, e assustado falou:
- Quê?!?!
- Tem um troco ai? Tô com fome? respondeu o rapaz.
Ele rapidamente colocou a mão no bolso e puxou algumas moedas e entregou para o rapaz:
- Toma!
Seguiu caminhando rápido, aliviado e se recuperando do susto. Deu mais alguns passos e lembrou dos dois caras que o acompanhavam do outro lado da rua. Olhou, olhou, e não os encontrou.
Começou a ficar assustado, procurando por eles para não ser novamente surpreendido, quando percebeu os dois vultos atrás dele.
Acelerou o passo, e ao atravessar a Osvaldo para chagar na parada do ônibus, quase foi atropelado por um carro que passava. O frio estava tão intenso que nem mesmo os punks que costumam freqüentar aquela região estavam lá.
A Osvaldo deserta piorava ainda mais a sensação, aumentava o medo. O vento gelado e cortante passava gritando por suas orelhas.
Apertou ainda mais o passo, quase correndo, e os dois vultos ainda o seguiam.
Avistou um ônibus vindo pelo corredor e correu para chegar na parada a tempo. Olhou para trás e os dois começaram a correr também.
Foi tomado pelo pânico.
Os dois corriam mais rápido que ele e se aproximavam rapidamente, o ônibus estava quase na parada, perto o suficiente para que ele pudesse ler que aquele ia para o lado contrário da casa dele. Pensou em entrar, talvez continuar correndo e voltar para a casa de seus amigos, talvez até o ponto de táxi...
Chegou na parada juntamente com o ônibus, que começou a frear mesmo sem ele ter feito sinal. Olhou para trás e percebeu que os dois homens estavam a menos de 5 metros dele... Um olhava para ele, o outro, para o ônibus.
Resolveu tentar correr até o ponto de táxi, pois se parasse para entrar no ônibus eles o alcançariam.
Neste momento o ônibus para completamente e abre a porta, bem ao seu lado. Ele passa correndo e olha para traz e vê que os homens que estavam seguindo ele estavam fazendo sinal para o ônibus, um velho e outro mais novo, provavelmente pai e filho. Entraram no ônibus e seguiram seu caminho.
Parou de correr e ficou vendo o ônibus arrancar.
Ficou pensando em tudo que tinha passado por sua cabeça, na gelada noite, sozinho em plena Osvaldo, se encostou na parada e ficou ali, esperando o próximo ônibus chegar.

Um comentário:

Anônimo disse...

realmente a maldade é tanta hoje em dia que desconfiamos até da nossa própria sombra.