15 de janeiro de 2010

Na Cabeça

Todo dia fazia a sua fézinha de acordo com o sonho da noite anterior. Cachorro, vaca, coelho, veado, do primeiro ao quinto, invertido, na centena e no milhar.
Até que viu na TV uma reportagem sobre as verdades por trás deste seu ingênuo hábito diário. Mortes, tráfico, cassinos clandestinos, lavagem de dinheiro e mais algumas coisas que ele abominava com todas as forças e sentia orgulho por ser assim.
Foi para a cama pensativo e preocupado, e sentindo-se traído e enganado teve uma noite de sono muito agitado. Acordou com os sonhos ainda na cabeça e não teve dúvidas, correu para a banca de apostas perto da sua casa e apostou todo dinheiro que tinha no bolso na cobra. Toda aquela enganação, aquela traição que sentiu e sonhou a noite inteira só podiam ser um sinal.
Dito e feito... Acertou na cabeça.
Nunca mais comentou sobre o que vira na TV. Ainda abomina com todas as forças qualquer forma de crime mas continua apostando diariamente na dica do sonho ali na banca pertinho da sua casa, sempre aberta, sempre movimentada.
A face amigável da contravenção.

Um comentário:

Maria Dorotéia disse...

Adorei. esta cada vez melhor Rica. parabens.