Nunca gostou de usar barba, só resolveu deixar crescer depois dela muito insistir, e mesmo assim repetia para si mesmo a toda hora que era "apenas para ver como fica".
Os dias se passaram, os pelos foram crescendo e ele começou a gostar de seu novo visual, além dos elogios constantes dela. Concluiu então que a barba proporcionava um ar mais sério, de homem mais velho e começou a cuida-la. Aparava de tempos em tempos com a máquina, cuidava do formato e dos contornos com a navalha, consertava os detalhes com a tesoura e quando pensava nas coisas da vida, já tinha por habito ficar a coçá-la. Era barbudo há meses e já tinha assimilado esta idéia.
Até que, depois de um dia estranho, numa ressaca horrenda e com a cabeça pesando mais de uma tonelada, parou diante do espelho e preparou-se para mais uma sessão de poda.
Os instrumentos estavam todos dispostos ao alcance da mão quando num momento de conflito de pensamentos, segurou firme a navalha e removeu todos os pelos da cara. Sentiu na hora a brisa passando suave pelo seu rosto enquanto o frescor gelado da loção ia tomando conta, e depois de um leve sorriso pelo trabalho encerrado, virou e foi-se embora.
Agora, ela lhe olha diferente, e ele, toda vez que passa em frente ao espelho se assusta ao não reconhecer aquele estranho jovem que lhe encara.
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